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8 de janeiro de 2010

diagnostico

A Fibromialgia é por vezes difícil de reconhecer na prática clínica diária o que provavelmente contribui para subestimar a sua frequência. Não existem exames laboratoriais, radiológicos ou outros que confirmem ou excluam a presença de FM. A escassez de sinais objectivos e a ausência de exames auxiliares de diagnóstico específicos, torna as queixas subjectivas dos doentes fundamentais para o diagnóstico. Assim, o diagnóstico é baseado nas queixas do doente, na sua história clínica e no exame físico cuidadoso.




Em 1990 o Colégio Americano de Reumatologia adoptou os seguintes critérios de diagnóstico:






Duração superior a três meses de:






1. Dor generalizada por todo o corpo;


A dor é considerada generalizada quando se verificam: dor do lado esquerdo e do lado direito do corpo, dor acima da cintura e abaixo da cintura e dor no esqueleto axial (coluna cervical ou tórax anterior ou coluna dorsal ou coluna lombar).






2. Dor à palpação digital em 11 de 18 pontos;




E, pelo menos, mais dois dos quatro sintomas seguintes:




1. Fadiga


2. Alterações do sono


3. Perturbações emocionais


4. Dores de cabeça




Apesar de não existirem exames específicos laboratoriais ou radiológicos que permitam diagnosticar a Fibromialgia, esses testes ajudam ao descartar outras doenças com sintomas semelhantes que são também característicos de muitas outras doenças. Estes são também importantes quando definem outro diagnóstico e excluem a Fibromialgia.


A longa lista de afecções que apresentam diagnóstico diferencial com a Fibromialgia e a gravidade e tratamento específico que muitas dessas entidades possuem levam muitos médicos a considerá-la como um ‘diagnóstico de exclusão’.


Diagnóstico Diferencial prático do doente fibromiálgico
Doença reumática


Artrite reumatóide


Lupus eritematoso sistemático


Espondilite anquilosante


Polimiosite


Síndrome de Sjögren


Polimialgia reumática


Reumatismo abarticular politópico


Osteomalácea


Osteoporose (microfracturas)


Doença vertebral degenerativa


Síndrome de dor miofascial
Doenças musculares


Miopatias inflamatórias


Miopatias de causa metabólica
Doenças endócrinas


Hipotiroidismo


Hipertiroidismo


Hiperparatiroidismo


Insuficiência supra-renal


Doenças infecciosas


Síndrome pós-viral (Epsteinn-Barr e VIH)
Doenças Neurológicas


Doença de Parkinson


Miastenia Gravis
Doenças Neoplásicas


Mieloma múltiplo


Metastização tumoral


Doenças Psiquiátricas


Neurose (depressão/ansiedade)


Transtorno por somatização




Síndrome de fadiga crónica




Síndrome Miofascial
Disfunção da articulação temporo-mandibular






O diagnóstico de Síndrome de Fibromialgia não exclue, no entanto, a presença de outras doenças concomitantes, contudo é necessário assegurar-se que não se confunda outra enfermidade com a FM, de forma a iniciar o tratamento adequado.






Tratamento






Não existe qualquer terapêutica específica que “sirva” a todos os doentes. O que parece ser mais eficaz são várias combinações terapêuticas a que se chegou de forma empírica e pragmática.


A multifactoriedade e a diversidade das manifestações, a variedade das necessidades e a complexidade das preocupações dos doentes com FM, justifica plenamente que a sua abordagem terapêutica seja realizada por uma equipa pluridisciplinar, em que todos os profissionais intervenientes, coordenados pelo reumatologista, devem conhecer todas as modalidades potencialmente úteis para o controlo da FM.


Mas se a terapêutica da FM deve ser multifacetada a abordagem dos doentes deverá ser individualizada.


Apesar da maioria dos doentes continuar a referir dor crónica, uma abordagem correcta e responsabilizadora do próprio doente pode melhorar muito a função e a qualidade de vida de muitos deles.


O envolvimento activo do doente, quer na escolha quer na realização das diversas modalidades terapêuticas utilizadas para o controlo da sua doença, torna-o mais aderente e colaborante aumentando assim a eficácia do tratamento.

Evolução e prognóstico da doença


Existem poucas informações disponíveis acerca da evolução e prognóstico da Fibromialgia.


Contudo, perante a história natural da FM parece indicar que a maioria dos doentes continua sintomática, alternando períodos de agravamento dos sintomas com outros de atenuação dos mesmos. As remissões são raras, embora por vezes existam ligeiras melhorias nomeadamente da dor e da fadiga.

As características da FM que mais interferem com o seu prognóstico são o modo de início, a presença de angústia e de perturbações do humor e a existência de incapacidade para o trabalho e lazer. De facto a gravidade global da FM correlaciona-se com a dor, o estado psicológico e o estado funcional dos doentes.



Perante os dados existentes actualmente crê-se que a FM “é para sempre” pelo que se torna necessário planear e realizar mais e melhor investigação com o objectivo de optimizar a abordagem do doente fibromiálgico e planear, racional e economicamente, os cuidados de saúde necessários.


Importância do acompanhamento médico

Os doentes com FM devem ser seguidos de forma regular e periódica. Este procedimento é importante para:

1) monitorizar a resposta ao tratamento;


2) reajustar os programas terapêuticos;


3) abordar correcta e atempadamente as exacerbações da FM;


4) resolver outros problemas/situações associadas que afligem os doentes;


5) encaminhar os doentes para outros profissionais de saúde quando necessário;


6) oferecer suporte emocional e orientação comportamental;

7) encorajar a prática regular de exercício físico adequado;


8) educar, reassegurar e empenhar o doente na execução da terapêutica.


Esta forma de abordagem do doente com FM pode reduzir os níveis de insucesso terapêutico.


Causas




Não existe uma causa única para a Fibromialgia, dada à complexidade da doença, alguns investigadores admitem poder tratar-se de uma série de causas. A sua patogenia é uma cadeia de acontecimentos em que alguns elos são mal definidos ou mesmo desconhecidos.

A investigação sobre as possíveis causas da Fibromialgia tem-se orientado em áreas como o músculo, o sistema nervoso central, o sistema nervoso autónomo, o sono, causas genéticas, o sistema imunitário, o metabolismo e o estado psíquico dos doentes


Factores desencadeantes

Factores diversos, isolados ou combinados, podem favorecer o aparecimento da Fibromialgia, entre eles doenças graves, traumas emocionais (morte de um familiar, divórcio, etc.) ou físicos (acidente de viação, traumatismo, intervenção cirúrgica, etc.), uma infecção, um episódio de gripe ou alterações hormonais.


Predisposição genética

Os familiares de doentes com FM apresentam uma prevalência superior de FM e maior sensibilidade dolorosa do que a população em geral.

É portanto provável a existência de uma predisposição genética, que em conjunto com factores ambientais e comportamentais, susceptibilize determinados indivíduos para desenvolver FM e outras alterações associadas. Não estando no entanto, comprovada uma componente hereditária

Personalidade

Embora não se possa falar de uma personalidade “fibromiálgica”, existem no entanto determinadas características que são comuns a quase todos estes doentes. Estas características enquadram-se dentro da chamada personalidade “pró-dolorosa”.


1. Grandes trabalhadores/ grande empenhamento

2. Actividade excessiva / perfeccionismo compulsivo

3. Incapacidade para relaxar e “gozar” a vida

4. Negação de conflitos emocionais e interpessoais
5. Incapacidade de coping com hostilidade/raiva

6. Necessidades infantis (dependência e carência)A quem referenciar


Devido à multiplicidade dos sintomas, os doentes com FM poderão ser acompanhados por várias especialidades, que deverão trabalhar em sintonia, para um melhor resultado no tratamento.

Idealmente tratada nos cuidados de saúde primária, poderá circunstancialmente ser referenciado a determinada especialidade consoante a dificuldade em debelar sintomas específicos. Assim as especialidades a que os doentes com FM mais recorrem são: Reumatologia (dor difusa, rigidez e disfunção)- Neurologia (alterações do sono, parestesias e cefaleias)



- Psiquiatria (ansiedade, depressão)


- Gastrenterologia (cólon irritável, perturbações gástricas)


- Cardiologia (s. Raynaud, palpitações, dor torácica)


- Ginecologia (dismenorreia, redução libido)


- Urologia (bexiga irritável, “dor rins”)




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